Genética vs Ambiente

Este tema tem sido muito discutido ao longo dos anos, tanto pela sociedade em geral como por vários cientistas. O objetivo é perceber qual a influência que os genes e o ambiente têm no desenvolvimento desportivo de uma pessoa.

Genética

Charles Davenport sustenta que os traços físicos e os traços de personalidade, ou seja, os nossos comportamentos, são passados de geração em geração pelos nossos progenitores, através da hereditariedade.

O interesse de Charles Davenport pela genética humana levou-o a estudar famílias e as suas histórias, pois acreditava que nos registos familiares encontraria traços transmitidos de geração em geração, possibilitando assim a identificação de padrões específicos. Além disso, Davenport era um defensor da eugenia, que visa controlar a genética da sociedade excluindo elementos considerados indesejáveis para a melhoria genética da população. Ele propunha que cruzamentos entre pessoas com características genéticas favoráveis seriam necessários para alcançar esse objetivo.

Um exemplo apresentado nos seus estudos é o caso de um homem considerado "normal" que teve um filho com uma mulher atraente, mas supostamente de capacidade mental limitada, resultando numa criança considerada corrompida devido ao suposto défice intelectual/cognitivo. Na época, acreditava-se que essa criança estaria predisposta à criminalidade e a comportamentos anormais, sendo considerada uma ameaça à sociedade. Davenport argumentava que, para evitar o surgimento de pessoas "anormais" como essa, era necessário ter cuidado na escolha dos parceiros de reprodução.

Este biólogo sustentava que o ambiente não era relevante para determinar características individuais; por exemplo, se os pais de alguém fossem considerados pouco inteligentes, ele afirmava que a criança também seria.

Embora em alguns casos a genética possa exercer uma influência dominante, como em situações em que uma criança herda genes associados a doenças graves, que podem limitar significativamente o seu desenvolvimento, em muitos outros casos o ambiente desempenha um papel fundamental. Apesar de nascermos com predisposições genéticas, somos capazes de moldar a nossa personalidade e características com o ambiente adequado e estímulos apropriados.

Quando falamos em genética, é crucial clarificar dois conceitos:

Genótipo: conjunto de genes que herdamos dos nossos progenitores.

Fenótipo: é o que observamos, são os traços de uma pessoa, resultante da interação entre o ambiente em que vivemos e o nosso genótipo, o que significa que as nossas características tendem a ser moldadas pelo meio ambiente (o fenótipo é, por isso, mais influenciável).

Isso leva-nos a compreender que as características de um indivíduo não são determinadas apenas pelo seu código genético, mas também pelo ambiente em que vivem. Por exemplo, consideremos dois colegas de escola com o mesmo potencial genético, mas que residem em bairros diferentes - um numa área urbana desenvolvida e o outro numa área rural com recursos limitados. As oportunidades educativas, o acesso a serviços de saúde e até mesmo o estilo de vida podem ser drasticamente distintos para cada um deles. Como resultado, os seus desenvolvimentos académicos, físicos e emocionais podem divergir consideravelmente, apesar de partilharem uma base genética semelhante.

Ambiente

John Broadus Watson defendia que era possível influenciar uma criança através de processos de aprendizagem, de modo a moldá-la para se tornar qualquer tipo de adulto.

Com base nesta sua teoria, John Broadus Watson escreveu sobre sua experiência com um bebé de nove meses, que ficou conhecida como "O caso do bebé Albert".

O objetivo de Watson era investigar a natureza do medo. Para isso, realizou uma série de experimentos expondo o "Pequeno Albert" a várias situações, incluindo um coelho branco, um rato branco, um macaco, máscaras com e sem pelos, romances de algodão, jornal em chamas, entre outras coisas, ao longo de dois meses, sem qualquer tipo de condicionamento prévio.

Inicialmente, quando um rato branco de laboratório era colocado próximo a Albert, ele brincava livremente sem demonstrar qualquer problema ou rejeição. No entanto, sempre que o bebé tocava no rato, Watson produzia um barulho alto, batendo numa barra de aço com um martelo. Isso fazia com que Albert chorasse e eventualmente demonstrasse medo sempre que ouvia o som.

Após várias repetições, Albert começou a mostrar nervosismo simplesmente ao ver o rato, pois associava o animal ao som que lhe causava medo. Assim, a mera presença do rato desencadeava nele uma resposta emocional de medo, devido à associação com o som produzido por Watson.

Nas sessões posteriores da experiência, tornou-se evidente que a criança não chorava apenas em resposta à presença do rato, mas também à presença de outros animais que antes não provocavam qualquer reação negativa nele.

É claro que qualquer alteração no ambiente, como demonstrado nesta experiência de Watson, pode influenciar significativamente o estado emocional e a personalidade do indivíduo, revelando reações que não eram aparentes anteriormente. Isso nos faz perceber que o condicionamento de animais pode ser eficaz também na condicionamento de seres humanos.

Através do exemplo desta experiência, podemos compreender que o ambiente, incluindo a vida social (família, grupos e cultura), desempenha um papel fundamental em todos os aspectos do desenvolvimento, incluindo a formação da personalidade de um indivíduo.

Solução de Anastasi

Segundo Anastasi, o principal motivo de debate é qual o fator mais importante para o desenvolvimento, qual a percentagem atribuída, tanto à hereditariedade, como ao meio e como cada um desses fatores atua e em que circunstâncias.

Portanto, o foco principal está em compreender como os fatores genéticos e ambientais interagem, em vez de determinar qual deles é predominante ou quantificar sua contribuição para o comportamento individual.

Dessa forma, conclui-se que tanto a hereditariedade como o meio ambiente atuam em conjunto no desenvolvimento do indivíduo, visando um mesmo objetivo - o próprio indivíduo. A genética é de facto determinante na definição das características da pessoa, aquilo que está presente desde o seu nascimento. Por outro lado, é importante salientar, conforme as análises e conceitos já apresentados, que o ambiente não pode ser negligenciado e desempenha um papel crucial em destacar e desenvolver essas características, ou não!

Nesta apresentação, David Epstein apresenta alguns argumentos sobre a interação dos fatores genéticos e ambientais no contexto desportivo. Ele destaca como é que a evolução da tecnologia, junto com mudanças nos tipos de corpo valorizados em diferentes desportos, tem influenciado a performance atlética ao longo do tempo. Ele aborda também a evolução da mentalidade dos atletas, explicando como é que a compreensão do limite físico do corpo humano muda, permitindo aos atletas acessarem mais do seu potencial.

O que é, para nós, mais importante no desenvolvimento, a genética ou o ambiente?

Na nossa opinião, tanto a genética como o ambiente têm igual importância no desenvolvimento humano. Ambos os fatores estão intrinsecamente ligados, sendo impossível considerar um sem o outro.

Enquanto a genética define as características inatas de uma pessoa, é o ambiente que molda e influencia como essas características se manifestam e se desenvolvem. Assim, é crucial reconhecer a relevância de ambos os elementos, uma vez que operam em conjunto para determinar o curso do desenvolvimento humano.

Referências:

Questionário:

Como é que o ambiente onde foste criado te ajudou a chegar onde chegaste?

Desde pequena que fui influenciada a praticar desporto, sempre foi um hábito dos meus pais a prática desportiva tendo sido eu influenciada pelos mesmos. Ter experimentado diferentes desportos fez com que conseguisse ter uma percepção e visão mais holistica do desportos em geral. Com isto, consegui perceber onde melhor me inseria e em que desporto mostrava mais aptidão.

Luna Taveira

Ginástica Acrobática, 18 anos

My external environment (my hometown/neigborhood) will either break you or make you. I was fortunate enough to make the very best of what was dealt to me. Most of the times individuals learn more and strive from going through hard times . Another huge part was my internal environment (my family and friends), my loved ones have supported me from day one and was there even when I didn't need to ask. I am more than proud of the man I am growing into and none of this would be possible if it wasn't for the environment I came up in

Justyn Lanier Rogers

Basquetebol, 25 anos

Proporcionando as condições necessárias para o meu crescimento, oferecendo oportunidades de aprendizagem e acesso a recursos que me ajudaram a alcançar meus objetivos.

Sara Cunha Lopes

Não pratica desporto, 34 anos

Como referi em antes os meus pais foram super importantes na minha jornada pela natação, sempre me deram apoio e incentivo para continuar. O meu treinador também é super importante neste processo, é alguém com quem posso tirar dúvidas, conversar sobre os meus objetivos e é alguém que me transmite muita força. Ou seja o ambiente onde fui criada foi sempre um ambiente agradável e que me fez querer continuar a treinar até aos dias de hoje.

Francisca Lopes

Natação, 18 anos

Acho que como já referi que o ambiente onde fui criado foi fundamental para a minha evolução devido ao apoio e a nunca me terem deixado desistir dos meus sonhos e de quem quero ser

Guilherme Cidra Duarte Sousa

Basquetbol (Seleção nacional), 15 anos

Qual é a tua opinião?

O que é que achas que influencia mais no desenvolvimento de um atleta , a genética ou o ambiente ?

Na minha opinião ambos são de extrema importância e, de certa maneira, relacionam-se. As características físicas e genéticas de um indivíduo ajudam no seu progresso evolutivo, mas o ambiente e os estímulos a que nos sujeitamos diariamente são cruciais para nos desenvolver enquanto seres humanos.